"O Caminho da Vida", de Nicolaï Ekk, será apresentado por Pierre Léon, Manuela Barros Ferreira e Cláudio Torres, no ciclo "Nos Caminhos da Infância" - sexta-feira 6 de Novembro de 2015 às 21h00 no CAM (Fundação C.Gulbenkian)
O primeiro filme de ficção sonoro e e de língua soviética estreia a 1 de Junho 1931 em Moscovo. Será projectado 1 200 vezes em pouco mais de um ano. Ao fim de quatro meses é visto por um milhão de espectadores. "O Caminho da Vida"", realizado por Nikolaï Ekk, dará a volta ao mundo, recolhendo prémios e felicitações da comunidade cinematográfica internacional. À primeira vista, as coisas parecem extremamente simples: a conjuntura política e cultural no momento do nascimento do filme é favorável. A história é, no início dos anos 20, entre o fim do Comunismo de guerra e a Nova Política Económica (a NEP), sobre a reeducação dos jovens delinquentes nas colónias abertas e supervisionadas pela OGpou, então dirigida por Felix Dzerjinski, o seu fundador. Colónias batizadas de comunas, onde os besprizorniki (literalmente: “sem vigilância”), milhares de crianças lançadas nas ruas pela Revolução e pela Guerra Civil, verdadeira chaga das cidades-monstros como Moscovo e Leninegrado, são agrupadas e “moldadas” pela “plaina” de educadores audaciosos, cujo representante mais conhecido continua a ser Anton Makarenko, autor do Poema Pedagógico. Uma vez moldados, “refundidos”, os jovens podem integrar a sociedade socialista e participar na sua construção, tomar “o caminho da vida”. O título russo é ainda mais preciso já que poutiovka designa o que se poderia chamar “ordem de missão” ou “roteiro”, metáfora mais exacta para descrever um sistema normativo em última análise, apesar do carácter fundamentalmente inovador, libertador e parcialmente eficaz de uma experiência pedagógica de inspiração rousseauniana, em grande escala. (...)
Pierre Léon
in catálogo “Nos Caminhos da Infância 1"