2015-07-17

O MUNDO À NOSSA VOLTA - Cinema, cem anos de juventude - "A Cinemateca encontra a sua infância" por Émile Breton - L'Humanité - 10.06.2015


Durante três dias, anualmente, desde há vinte e um anos, no final da Primavera, a sala Henri-Langlois da Cinemateca Francesa enche-se de risos e trocas ruidosas.  É por esta altura que a cinemateca acolhe o projecto "Le cinéma, cent ans de jeunesse" (Cinema, Cem Anos de Juventude), e os seus futuros cineastas, com idades entre os seis e os dezoito anos, todos eles estudantes oriundos de nove países, número este que cresce a cada ano.  Em 2010 e 2012, falámos aqui sobre esta festa, onde logo que termina um filme começam as questões dos espectadores, cinéfilos, não mais altos que aqueles do filme “L’Argent de Poche”” (A Idade da Inocência) de Truffaut, que interrogam os realizadores, com a mesma idade.  Estamos agora de volta, nos dias 3, 4 e 5 de Junho. Em primeiro lugar, pelo prazer de ver o cinema como uma partilha. Mas também, para relembrar que o que vemos durante estes três dias, vem de longe. De um longo trabalho. Todos os anos, é escolhido um tema, no qual os participantes devem basear a sua curta-metragem. Este ano, foi o “intervalo”, como dizia o texto de apresentação, o facto de “se distanciar, desaparecer ao longe, se aproximar (as personagens entre si, e a personagem da câmara), este intervalo é impulsionador de sentido e emoção”.

Nas escolas que participam do projecto, os alunos, juntamente com professores e cineastas, construíram um guião, rodaram o filme, fizeram a montagem, cada um assume um papel na equipa, desde a altura onde existe apenas uma ideia vaga até ao momento que toma forma e se torna uma história. Antes de passarem à câmara, viram e discutiram filmes de “adultos”. 

Para dar uma ideia de como eles interagem, uma reflexão de uma rapaz português de oito anos: “O intervalo, para mim, é a distância e a relação entre as personagens como vemos no  filme "O Verão de Kikujiro", de Takeshi Kitano, a distância que existe entre o filho e a mãe.” Assim avançam os filmes visionados ao longo dos três dias: uma certa forma de filmar, que mostra pela imagem, pela montagem dos planos filmados, o que a dado momento da sua vida pode separar uma criança, um adolescente, dos seus colegas, tenha sido esta uma vontade individual ou por ter sido colocado de parte pelos outros. E geralmente é nos filmes dos mais jovens (sete, oito anos) que encontramos este “intervalo impulsionador de sentido e emoção”. Também, os múltiplos objectos pelos quais, num filme de alunos de Paris, dois excluídos se aproximam: os animais que os unem, num outro, duas crianças cubanas. Filmes muito próximos de um jogo: fizemos “como se”. “Mosso Mosso”, teria dito Jean-André Fleschi e Jean Rouch no seu belo filme africano, infância de contos reencontrados.

Émile Breton
in L'Humanité - 10 de Junho de 2015.