Lembrei-me de uma adivinha infantil (um pouco absurda) que dizia :
" O que é que é pequeno, redondo e verde, que sobe e desce ?
- Uma ervilha num elevador ! "
Em Junho, durante os três dias de apresentação na Cinemateca Francesa, às vezes era difícil não ver os filmes realizados nos ateliers de "Cinema, cem anos de juventude" assim ; quer dizer através do prisma deformante de uma super-atenção à cor. Uma mancha vermelha invade o écran : são os jogadores de uma equipa de handball abraçada antes do jogo. Um ponto vermelho desaparece entre o verde : é uma rapariga na floresta, vista de relance e perseguida por um apaixonado !- Uma ervilha num elevador ! "
Este ano, a maior parte dos filmes foram filmados nas salas de aula, nos estabelecimentos escolares e nas suas redondezas : depois da colheita de cores, o universo quotidiano dos alunos tornou-se visível aos seus olhos (como com o exercício dos minutos Lumière).
Os exercícios tiveram um papel fundamental na escolha dos lugares : "Qual é o azul do teu bairro ? Compara as caixas de correio dos diferentes países que participam nos ateliers. Observa, em volta de ti, os elementos naturais, o céu, a erva, a terra, as especiarias, ou ainda as matérias (tecidos, pinturas), as luzes (sinais, reflexos), os objectos manufacturados, as sinaléticas… "
De Grenoble a Barcelona, de Paris a Roma e a Lisboa, os bonbons, os balões, as mochilas, os fatos de desporto, trocas de casacos, livros escolhidos pelas capas apareceram nas histórias.
Foi um ano onde, claramente, o trabalho sobre a sensação primou sobre a narração. Em muitos dos filmes, as formas e os contornos esbateram-se para dar lugar a uma abordagem abstracta só da cor, a um trabalho plástico sobre o desfocado, o encoberto, o movimento na sua relação com a velocidade (filage)…
Mas pôr-se a questão da cor, era também dar continuidade ao caminho iniciado nos anos anteriores (em particular os anos sobre a luz e sobre a relação entre a figura e o fundo). Tratava-se de dar a perceber e a experimentar aos alunos que a emoção, no cinema, não provém unicamente dos diálogos e da representação do actor. De enriquecer a sua expressão cinematográfica.
No final, muito poucos diálogos nos filmes deste ano, mas a presença de sons e de músicas associadas às cores "interiores", mentais, das personagens, dos seus sentimentos.
Os pequenos ensaios que descobrimos, durante os dias de projecção na Cinemateca Francesa, testemunham de uma grande atenção à tonalidade do filme no seu conjunto, às roupas, aos décores, e em geral a uma grande atenção ao mundo.
Com a questão da cor, receávamos a armadilha do formalismo. E surpresa : raramente os filmes foram tão pessoais, exprimindo as alegrias, as raivas, as tristezas, os desejos secretos e as preocupações das crianças e dos adolescentes que os realizaram…
Nathalie Bourgeois,
coordenadora de Cinéma, cent ans de jeunesse
responsável do serviço pedagógico da Cinemateca Francesa