2009-06-15

CINEMA, CEM ANOS DE JUVENTUDE: l'expérience a été profitable, por Alain Bergala











Desde 1995, tive a oportunidade de participar em muitos encontros, colóquios, jornadas de reflexão e balanços de experiências de todo o género em matéria de pedagogia e de transmissão do cinema. Em nenhuma parte ainda encontrei uma experiência tão completa e exemplar como a que é conduzida nos ateliers do Cinéma, cent ans de Jeunesse (Cinema, Cem anos de Juventude).
Há para isso três grandes razões, que constituem as três grandes forças deste projecto.

A primeira é o seu valor de universalidade.
Procuramos sempre que as turmas que constituem o dispositivo sejam o mais variadas possível : geográficamente, sociológicamente e pelas idades. As turmas participantes tocam todas as faixas etárias (desde os mais pequenos da escola primária aos mais velhos dos liceus), todos os meios sociais (dos subúrbios com os bairros críticos aos grandes liceus de tradição clássica), e de zonas e meios culturais cada vez mais alargados (de Paris a Martigues passando por Strasbourg e Perpignan) aos quais se juntaram desde há alguns anos a Espanha, Portugal e, este ano, a Itália.
Sendo o cinema uma arte imediatamente sensível a todas as diferenças (de paisagens, de climas, de luz, de línguas, de ritmos e de modos de vida) os filmes visionados no final do ano são de cada vez a expressão desta variedade e de todas estas diferenças.
É o que torna exemplar e generalizável o projecto de Cinéma, cent ans de jeunesse : a sua capacidade de fazer partilhar as regras do jogo que, longe de uniformizar os resultados, permitem cultivar o cinema como uma arte das nuances e das diferenças.

A segunda, é a seriedade do envolvimento de todos os que, em cada ano, tornam esta experiência ao mesmo tempo "reconduzível" e sempre nova.
Uma pequena comunidade foi-se constituindo ao longo dos anos, em torno de convicções comuns e do prazer renovado de partilhar uma experiência conseguida de transmissão diferente sobre um objecto, o cinema, que todos partilham afectivamente.
Espaço de encontro e de formação entre os professores e os cineastas, o Cinéma, cent ans de jeunesse /Cinema, cem anos de juventude, propõe um enquadramento teórico e estratégico suficientemente rigoroso para ser tranquilizador e suficientemente leve para que cada um se aproprie em função da situação local que é a sua. O triângulo alunos - professor - cineastas tem em si virtudes pouco comuns que avaliamos em cada ano o potential de enriquecimento recíproco e a sua eficácia pedagógica.
Os valores que se cruzam no seio deste triângulo dão á escola uma dimensão de alteridade sempre nova e divertida, salutar e cheia de surpresas. Os participantes são formados através dessa experiência e dessa partilha tanto quanto os que eles supostamente estão a formar. Este é um dos critérios mais seguros de uma pedagogia verdadeiramente viva : que transforma tanto os adultos que a prodigalizam como os jovens que tiram dela benefício.

A terceira, é o rigor do seu método.
A pedagogia do cinema está cheia de armadilhas e de enganos de todos os géneros : a política da finalidade filme (que se mede pelo nível de aplausos), a instrumentalização do cinema a um puro querer-dizer, a demagogia da criação falsamente colectiva, e não digo outras bem piores…
A pedagogia do nosso dispositivo tem o mérito, indiscutível, de ter encontrado um equilíbrio entre a abordagem do cinema como linguagem e a do cinema como arte do sensível, um equilíbrio entre o ver e o fazer. Entre a reflexão e a imaginação criadora, entre o individual e o colectivo.
A escolha de um tema de reflexão anual, como o da cor este ano, permite a todos os participantes de se colocar as mesmas interrogações, de trabalhar os mesmos excertos de filmes (escolhidos em toda a história do cinema), e de poder dialogar à distância durante todo o ano. Longe de ser um freio à criatividade, os exercícios comuns e as regras do jogo iniciais permitem pelo contrário aos alunos dar largas à sua imaginação centrando no entanto a sua atenção sobre um aspecto do cinema que releva ao mesmo tempo uma experiência do sensível, íntima, e de escolhas técnicas e de linguagem. A cor está em primeiro na sua vida e no seu envolvimento e releva ao mesmo tempo do gosto individual de cada um e dos códigos sociais.
Fazer um filme, é fazer escolhas precisas sobre a forma como se vai escolher, enquadrar, iluminar aquelas cores para criar sentido e emoção. A particularidade de uma pedagogia do cinema como arte é precisamente a de conjugar o sentido e o sensível, a linguagem do cinema e a emoção. As estratégias pedagógicas partilhadas por todos os participantes de Cinema, cem anos de juventude, são determinadas por este duplo objectivo e verificamos, em cada encontro de fim de ano, que foi muitas vezes atingido de uma maneira que ultrapassou as nossas esperanças.

O tema deste ano – a cor no cinema – ter-nos-á permitido contribuir na prática á reflexão sobre o lugar do cinema na História das artes, que nós anticipamos desde há anos trabalhando os parâmetros escolhidos (a luz, a relação figura-fundo, etc) comparando o seu tratamento cinematográfico com o das outras artes : pintura, fotografia, escultura, obras plásticas contemporâneas.

O Cinema, cem anos de juventude teve desde a sua origem a ambição de ser uma vanguarda exigente em matéria de iniciação ao cinema. Mas uma vanguarda só tem sentido, em matéria de educação, se a sua experiência puder abrir pistas úteis para os outros, se os seus métodos puderem ser praticados por outros, noutras circunstâncias. Eu inspirei-me pessoalmente muito, tanto para o meu trabalho no Ministério da Educação (nomeadamente para pensar os cursos a PAC e para a colecção de Eden Cinéma) como para as minhas intervenções noutros países (Alemanha, Argentina, Finlândia, Itália, Brasil, Espanha, etc…) onde projectos de educação ao cinema começam a emergir. Utensílios saídos desta paciente procura poderiam ajudar a divulgar a filosofia e os métodos desta experiência, agora de quinze anos, de forma a que outros ganhem confiança e descubram aí matéria para os ajudar a lançar-se na sua própria experiência.

Alain Bergala
(maio de 2009)